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Publicado em 5 de junho de 2025 às 11:27
O aumento nas tarifas sobre importações de aço, alumínio e derivados nos Estados Unidos entrou em vigor na quarta-feira (4) e pode ter impactos significativos no Espírito Santo. O Estado é um dos principais responsáveis pela exportação dos produtos do Brasil para o país da América do Norte. >
Antes, a taxa de importação era de 25%. Agora, conforme decreto despachado pelo presidente Donald Trump, a porcentagem é de 50%. Com a mudança, órgãos ligados ao setor produtivo apontam preocupação.>
Para o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas nacionais, por exemplo, a medida agrava o já delicado cenário global do setor, caracterizado pelo excesso de capacidade na ordem de 620 milhões de toneladas. Especificamente no Espírito Santo, que em 2024 exportou US$ 1,8 bilhão em produtos do aço, já há observação na queda dos envios para fora do país em 2025.>
Carolina Ferreira, gerente de Estudos Estratégicos do Observatório da Federação da Indústrias do Espírito Santo (Findes), explica que os impactos com o início da tarifa ainda são desconhecidos, sobretudo devido às incertezas geradas por sucessivos anúncios tarifários de Trump. Porém, ela cita alguns cenários que são esperados.>
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“Uma das possibilidades é alguns importadores optarem por suspender os embarques de cargas previamente contratadas, mesmo que isso incorra em custos logísticos e contratuais relativos a essas suspensões”, exemplifica.>
Outro cenário é o da possibilidade de manutenção dos volumes exportados nos próximos meses, devido aos contratos de compra e venda (e de embarques) já estabelecidos entre exportador e importador. Isso, segundo Carolina, ocorreria porque, no curto prazo, o importador norte-americano não conseguiria o volume de aço necessário no mercado interno para substituir suas importações a custos mais baixos. >
“Além disso, é possível que, no longo prazo, os exportadores nacionais busquem novos mercados, seja em outros países ou até no mercado interno brasileiro para evitar as incertezas impostas pelo governo dos Estados Unidos. Assim, no longo prazo, esses impactos seriam suavizados”, comenta a gerente da Findes.>
Questionada sobre impactos no bolso do consumidor comum e no cofre de grandes empresas, Carolina Ferreira pontua que os cenários são semelhantes. >
Impactos para consumidores e empresas
➥ Consumidor comum: As tarifas ao aço importado pelos Estados Unidos impactam os consumidores daquele país, pois são os importadores que pagam essas tarifas e ream os custos aos seus produtos. Já os impactos indiretos possíveis se dariam a partir do consumo/importação, pelo Brasil, de produtos que serão fabricados pelos Estados Unidos a partir do aço mais caro. No entanto, caso esses produtos tenham semelhantes fabricados em outros países, espera-se que os importadores brasileiros busquem mercados mais competitivos para suas importações.
➥ Grandes empresas: Semelhante à importação de produtos pelos consumidores brasileiros, para as grandes empresas que dependem da importação de insumos fabricados a partir de aço, oriundos dos Estados Unidos, espera-se que busquem mercados mais competitivos para suas importações.
De acordo com Paulo Baraona, presidente da Findes, os anúncios de taxações elevam a insegurança de todo o mercado global. >
“A Findes, junto à Confederação Nacional da Indústria (CNI), vem acompanhando os anúncios a respeitos das taxações, tanto do aço quanto dos demais produtos. Ambas as instituições entendem que as ações de mitigação am, sobretudo, pelas negociações do governo brasileiro junto ao governo dos Estados Unidos”, frisa Baraona.>
Segundo o texto assinado por Donald Trump, o objetivo da taxação é garantir a segurança dos Estados Unidos. Ao taxar produtos importados, o presidente norte-americano também quer priorizar e fomentar a indústria local, já que, com custos de importação mais altos, a economia interna poderia se fortalecer com produção e demanda internas. >
Por outro lado, a taxação aos exportadores, segundo manifestação do Aço Brasil, ainda que intensifique as práticas protecionistas do republicano, compromete a estabilidade do comércio internacional de aço.>
“Em 2024, os Estados Unidos importaram 5,6 milhões de toneladas de placas de aço, sendo 3,4 milhões de toneladas provenientes do Brasil. Os dados evidenciam que a demanda por esse insumo não será suprida internamente de forma imediata, tornando a imposição de tarifas adicionais prejudicial, tanto para exportadores brasileiros quanto para setores industriais norte-americanos”, diz nota do instituto.>
Segundo Carolina Ferreira, já foi possível observar um recuo nas exportações capixabas nos quatro primeiros meses deste ano. No acumulado entre janeiro e abril de 2025, as exportações de produtos de aço do Espírito Santo caíram cerca de 40% em comparação ao mesmo período em 2024. Logo, é possível que as tarifas estejam impactando as exportações. >
No entanto, ainda de acordo com a gerente do Observatório da Findes, seria cedo para um diagnóstico para previsão de como as exportações vão se comportar nos próximos meses.>
“Ao longo dos últimos anos, os números mensais apresentaram muitas oscilações. Considerando que o aço exportado pelo Espírito Santo pode encontrar outros mercados, é possível que essas reduções sejam suavizadas em breve”, diz Carolina.>
Ela ainda destaca que a redução das exportações não significa, necessariamente, uma queda da fabricação do aço, uma vez que o produto também pode estar sendo direcionado ao mercado nacional.>
Com as tarifas em vigor, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) emitiu, na quarta-feira (4), uma nota sobre o tema, apontando preocupação diante da medida. Para a entidade, a indústria nacional é afetada, bem como o setor produtivo norte-americano, que depende da matéria-prima brasileira. >
“Dobrar a taxação sobre o aço e o alumínio é um retrocesso nas relações comerciais entre nossos países. Continuamos defendendo que o diálogo é o melhor caminho para reverter medidas desproporcionais como essa e restabelecer um ambiente de confiança e cooperação mútua, para evitar que as cadeias produtivas em ambos os países sejam ainda mais prejudicadas”, compartilhou Ricardo Alban, presidente da CNI, por meio da Agência de Notícias da Indústria.>
Ainda segundo comunicado, a CNI destacou que, no último ano, 60% das exportações brasileiras de aço e 16,8% de alumínio tiveram os EUA como destino. "Federações e associações setoriais têm atuado em conjunto com o governo federal em busca de respostas firmes e de soluções para resolver a situação”, complementa o texto.>
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